"Harry Potter é um incentivo à imaginação"
Porque é que o Harry Potter consegue atrair tanta gente, de idades e culturas tão diversas?
Não sei bem, mas acho que tem que ver com a enorme dificuldade que tenho em ser objectiva na minha escrita. Se calhar escrevo primeiro para mim, e devo deixar passar essa forma de expressão. E, além das aventuras, tramas e atribulações do próprio Harry e do seu mundo, os meus livros são essencialmente sobre magia, e a magia atrai miúdos de qualquer canto do Mundo. É claro que nem eu nem os adultos acreditamos nessa magia, mas... e se de repente ela se tornasse real? É sobre isso mesmo que escrevo.
Harry é muito corajoso. Uma característica que atrai muitos leitores...
Apesar de se revelar muito ansioso, ele nunca desiste de nada, hé como que uma combinação de intuição, pureza, e um bocado de sorte.
Como é que criou Harry?
Lembro-me do ano de 1990 como se fosse hoje. É engraçado, ele surgiu assim, de repente e já delineado, ia eu de comboio do Norte de Inglaterra para Londres. Fiquei tão excitada que, mal parei na estação de King's Cross, desatei a correr para casa. Tinha que escrever tudo, antes que me esquecesse.
Porque é que o miúdo tem esse nome?
Harry foi inventado, quanto a Potter, inspirei-me numa família conhecida; gostava do som do nome.
Quanto tempo precisou para sair o 1º livro?
A Pedra Filosofal absorveu-me cinco longos anos. Tanto tempo porque, desde a primeira ideia, esbocei logo uma série de sete livros, cada um dedicado a um ano da vida de Harry, enquanto estudante de Hogwarts, onde aprendeu a ser bruxo e feiticeiro.
E o tempo para a escrita?
Trabalhava na Amnistia Internacional, em pesquisa sobre os abusos dos direitos humanos em África. Escrevia ao almoço ou à noite.
Houve rejeição pelas editoras?
Muitas, mas estava mesmo à espera. Só que gostava tanto do Harry que tinha de pô-lo em papel, independentemente do custo emocional e das energias que me gastavam. Felizmente, depois de muitas editoras dizerem que não, encontrei quem acreditasse em mim. Veja quem foi o último a rir.
Quanto tempo escreve por dia?
Depende, por vezes 10 horas, outras não faço nada. Mas as melhores ideias surgem-me depois da meia-noite.
Faz muitos rascunhos?
Pilhas e pilhas. O capítulo nove foi reescrito 13 vezes, detestei-o.
Uma certa facção religiosa argumenta que em Harry se promove a bruxaria.
Os livros de Harry são bastante morais. Fico enjoada por esses extremistas terem perdido a postura. Criticam que a bruxaria esteja presente em livros de crianças mas, se prevalecerem tais pontos de vista, perder-se-ão imensos contos infantis.
Acha que a chegada do filme matará a imaginação e a magia da obra?
Obviamente que espero que não. Os filmes nunca destroem os livros de que gosto.
Hollywood não terá tendência para americanizar demais a sua obra?
Da primeira vez que falei com o realizador Steve Kloves, fiquei apreensiva por ser americano. Mas, mal me disse que a sua personagem preferida era Hermione, deu-me logo a volta, que também é a minha. Além disso, sempre disseram que queriam ser o mais fiéis possíveis à obra.
E quanto a Daniel Radcliffe, o actor que veste a pele de Harry, o que diz dele?
Havia uns 40 mil jovens inscritos para o casting. Mal o vi, percebi logo que era aquele que eu queria.
Se o filme alcançar o sucesso que promete, enriquecê-la-á ainda mais. A autora vai estragar-se com isso?
Credo, espero que não. É certo que comprei uma casa numa das melhores zonas de Londres, mas a minha vida e os meus gostos continuam simples como sempre. Mas é bom poder oferecer à minha filha todos aqueles brinquedos que, sozinha, não consegui alguma vez dar-lhe. O meu casamento acabou cedo, fui uma mão solteira e o dinheiro era escasso.
Qual a reacção das crianças ao saberem que estão com a criadora de Harry?
Os mais engraçados são os que nada dizem. Ficam com os olhos pregados em mim, enquanto as mães lhes vão batendo nas costas a dizer, "vamos, diz-lhe quanto gostaste do seu livro!"
Que objectivos espera atingir com a sua obra?
Antes de mais, acho que é um convite ao exercício da imaginação quer das jovens quer dos adultos que me lêem, e um incentivo à leitura. Se as crianças conseguirem ler mais num mundo povoado de Gameboys e Pokémons, é excelente.
NOTA:
As perguntas são de crianças e leitores, e não de jornalistas, que Rowling rejeitou. Os fundos serão a favor da Comic Relief, para combater a fome das crianças em África e não só.
Nenhum comentário:
Postar um comentário